domingo, 11 de março de 2012

É Veríssimo: um Ruís Ferdinando Sempre Inacabado relê e atualiza o Millôr Definitivo!

Quem diria... Eu tenho inveja do Veríssimo e o Ruís tem inveja do Millôr, que como eu, ama sacanear o Sarney, que não ama ninguém...

Bunda (Millôr Definitivo, p.59)
“Quais são os limites da linguagem? Quem os traça? Claro, a publicação pode definí-los: bunda não sai. E abundante? E culatra? E recuar? E acuado? Que palavra sugere que eu use em vez de bunda? Nádegas? Juro que aí, sim, eu coraria de vergonha. Traseiro, pompom, bumbum, assento, posterior? Não, eu tinha que usar bunda, a palavra certa, bonita, essa bonita palavra africana. Jamais usaria um eufemismo gracioso. Como humorista profissional me proíbo gracinhas – coisa de amador. Se usasse rabo, palavra mais forte, também extremamente expressiva, estaria forçando a barra – no contexto da revista. Mas, muito bem; vetamos bunda no atual artigo. E se, em outro, eu escrever língua bunda, dos angolanos? Ignoro a existência da língua? Ou a chamo discretamente de língua nádegas (bilhete a um editor da revista Veja, 1978)”


Quem diria... Em 1978 se discutiam as possibilidades de bunda. Da mesma bunda que hoje perambunda irrelevante pelos Big Brothers preocupados com cenas, não de sexo implícito, e sim dos pseudos estupros quase explícitos. A bunda merecia um fim mais esplendoroso. Linda palavra. Daquelas que explicam em pormenores, por si mesma, exatamente e em detalhes o que significa. Outro dia entrei na sala da imigração no aeroporto de Guarulhos e gritei: “Bunda!”. Imediatamente um grupo de haitianos, um monge tibetano refugiado da violência chinesa e uma linda moça nativa de Ingria, que só fala Votic, botaram a mão para trás naquele tradicional movimento de “a minha, não”. Palavra que despreza as últimas barricadas contra a impiedosa globalização, as barreiras linguísticas. Palavra onipotente que devia ser sempre escrita só com maiúsculas: BUNDA.

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