Domingo. Após o delicioso almoço em família, gerações, móveis e autores afastavam pai e filho. Progenitor: Clarice Lispector. Herdeiro: Espinosa. Distantes como durante a semana. Ou próximos como nunca? O filho levanta os olhos; o pai, os óculos.
- Pai, obrigado pelo ensinamento de amor aos livros.
- Filho, foi meio sem querer. Até egoísmo...
Freud explica.
O pai nunca lera Freud. Preferia romances. Nem o filho: preferia Jung.
O pai sempre o presenteara com livros. Aumentava a mesada após cada leitura.
- Escrever também lhe satisfaz. Escreva mais!
- Ando ocupado, trabalho...
- Já poderia se aposentar...
Silêncio. Óculos. Clarice.
- Pai, falando sério. Tenho lido sobre “felicidade” e...
- Autores técnicos... Devia ler romances...
- Eu gosto de escrever! Vamos escrever um livro?
- Muita ambição.
Semana seguinte. Bienal. Pai e filho juntos. Um concurso de micro contos. Bom começo!
Desafio: só 140 caracteres. Escreveram dois: “Gerações e autores afastavam pai e filho; este levanta olhos; o pai, os óculos. – Escrevamos um livro! - Ambicioso... Bienal: micro contos. Bom começo...” e “ O pai, agora avô, só dava livros ao filho, agora pai. Reclama que o neto não quer brincar; só quer saber de livros digitais na Internet...”
O filhou errou no procedimento de inscrição do concurso de micro contos:
- Não ganhamos.
- Ganhamos, sim, filho. Foi divertido.
- E o livro?
- Eu topo. Podemos tentar...
- Então concordo. Ganhamos!
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